Num país em que a pressão sobre a fauna silvestre cresce a cada dia, pelo tráfico, pelo desmatamento, pela fragmentação dos habitats, cada operação bem-sucedida de reintrodução de animais na natureza é mais que um gesto técnico. É um respiro. E foi exatamente isso o que aconteceu entre os dias 17 e 19 de novembro, quando equipes dos Centros de Triagem de Animais Silvestres da SEMARH e do Ibama concluíram a soltura de nove macacos-prego na região da Serra Negra, em Aroazes.

A soltura, cuidadosamente planejada, aconteceu logo cedo da manhã, quando a temperatura ainda é amena e o ambiente oferece melhores condições para que os animais retomem seus instintos e se orientem no território. “Esse é sempre o momento mais delicado e mais bonito do processo”, explica o veterinário da Semarh, Alexandre Clark, acrescentando que o papel do órgão é garantir que os animais cheguem saudáveis, fortes, atentos, e que tenham as condições ideais para reiniciar a vida em liberdade.

Ao fim da tarde, a equipe retornou ao ponto de soltura para fazer a primeira verificação de campo. Nenhum dos nove macacos-prego foi encontrado, um indicativo positivo. “Quando não há animais nas proximidades, significa que seguiram mata adentro, explorando o território e retomando comportamentos naturais”, acrescenta Clark. Toda a operação contou com provisão de alimentos para garantir conforto e saúde aos animais até o momento da soltura.

A gerente de Fauna e Proteção Animal da Semarh, Danielle Melo, reforça que o trabalho integrado dessas equipes vai muito além do ato de devolver um animal à natureza. “Cada soltura é resultado de semanas ou meses de recuperação, reabilitação e avaliação comportamental. Trata-se de devolver dignidade a seres que passaram por stress, captura ou maus-tratos. E também de restaurar o equilíbrio ecológico, que depende da presença desses animais no seu ambiente de origem”, afirma.

Em tempos de tantas pressões ambientais, operações como esta lembram que a conservação da fauna precisa ser permanente, estrutural e comprometida. E mostram que, quando técnica, sensibilidade e responsabilidade andam juntas, a vida encontra caminhos para recomeçar, livres, fortes e no lugar a que pertence. Só esse ano, a Semarh já fez a soltura de mais de 100 animais silvestres.